Transtorno de pânico
Márcio Bernik e Guilherme Spadini dos Santos
O termo pânico teve origem na crença dos antigos gregos no deus Pã, considerado guardião dos bosques e florestas. Atribuía-se a ele o poder de paralisar quem encarasse sua imagem assustadora, idealizada com orelhas, chifres, cauda e pernas de bode. Daí a palavra pânico, definida como uma sensação de medo tão intensa que é capaz de entorpecer o indivíduo e de privá-lo do autocontrole por alguns segundos.
Ao longo da vida, muitos irão experimentar esse sentimento. Um grande medo toma conta da pessoa repentinamente. O coração dispara, o ar parece faltar e há um pressentimento que algo muito ruim vai acontecer, mesmo que não se saiba o quê. Em geral, experimenta-se essa sensação diante de situações específicas, muito graves ou associadas à uma ameaça real.
Para quem já sentiu pânico, é tranqüilizador saber que não terá essa sensação novamente, já que ela surgiu apenas em decorrência de uma situação limite. Entretanto, 10% da população podem sofrer crises sem motivo aparente, denominadas crises de pânico. Cerca de 3,5% dessas pessoas sofrem ataques repetidos, o que leva a alterações no comportamento e a um medo intenso de que essas ocorrências se repitam. Esses indivíduos são portadores do transtorno de pânico.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é feito quando o indivíduo é acometido por mais de quatro episódios em um mês. No transtorno de pânico, as crises são freqüentes. Muitas vezes, ocorrem várias no mesmo dia. Em geral, aparecem sem motivo aparente, mesmo quando tudo parece estar bem.
A duração de um episódio de pânico varia bastante, mas tipicamente leva de 30 minutos a uma hora. O pico de ansiedade intensa, em geral, não passa de 10 minutos. Em alguns casos, dura menos de um minuto. A preocupação e a ansiedade que seguem o ataque podem permanecer por horas ou dias, dando a impressão de que a crise é muito demorada. Entretanto, a maioria dos pacientes consegue identificar que o surto, em si, é um período limitado de ápice da ansiedade.
Sinais
Durante o ataque, o paciente pode sentir alguns sinais, como disparo do coração, falta de ar, formigamento, suor nas mãos, palidez, tontura e náuseas. Algumas sensações são difíceis de descrever, como sentir-se “sem chão”, caindo, nas nuvens ou como se não percebesse o próprio corpo. Esses sentimentos são chamados de despersonalização e desrealização.
Além dessas percepções físicas, alguns idéias costumam ocorrer durante a crise de pânico. O mais comum é o paciente pensar que vai morrer naquele instante ou que está sofrendo um infarto ou um derrame. Muitos têm a sensação de que vão enlouquecer. Embora esses pensamentos sejam puramente imaginários, o indivíduo vivencia-os como reais.
Como as crises de pânico são imprevisíveis, o paciente também se sente tenso e preocupado após o surto, pois fica imaginando quando ocorrerá o próximo episódio. Ele pode passar a temer que a crise aconteça, por exemplo, dentro de um ônibus lotado ou de um cinema, em um local onde não há alguém por perto para socorrê-lo ou quando houver tanta gente que ele sinta vergonha de passar mal. Esse sentimento denomina-se ansiedade antecipatória. Mesmo que não haja ataque de pânico, o indivíduo sofre de ansiedade, na expectativa do próximo surto.
Em alguns pacientes, a ansiedade antecipatória torna-se tão forte que eles não conseguem mais enfrentá-la. Deste modo, passam a evitar situações que consideram de alto risco, como sair de casa sozinhos ou mesmo acompanhados Não conseguem mais dirigir, entrar em shoppings ou supermercados, viajar e trabalhar. Esse medo é chamado agorafobia. Nem sempre esse tipo de fobia acompanha o transtorno de pânico, mas essa é uma evolução bastante comum.
Tratamento
A maioria dos casos de transtorno de pânico pode ser tratada com sucesso. A terapia medicamentosa é feito com determinados antidepressivos, e, em algumas ocasiões, com benzodiazepínicos. Quando a agorafobia também está presente, a associação com terapia cognitivo-comportamental costuma melhorar essa resposta. Por se tratar de uma condição crônica, o transtorno de pânico pode voltar após o tratamento. Por isso, ele deve ser de longa duração, levando, em geral, de um a dois anos.
Márcio Bernik é psiquiatra, doutor em Medicina pela FMUSP, coordenador do Ambulatório de Ansiedade da instituição (Ambam) e professor assistente do Departamento de Psiquiatria da FMUSP; Guilherme Spadini dos Santos é psiquiatra e mestrando do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.
Contato: marcio.bernik@uol.com.br
Você também pode se interessar por: