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Doença de Alzheimer

* Orestes Vicente Forlenza

A doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo, progressivo e geralmente de longa evolução, considerado a principal causa de demência na população. Afeta funções cognitivas como memória, capacidade de aprendizado, linguagem, atenção, capacidade visual e noção espacial.

Nos estágios iniciais, há alguma preservação da memória remota, mas conforme a enfermidade evolui, a incapacidade de lembrança torna-se generalizada. A dificuldade de aquisição de novas informações aumenta até não haver mais novos aprendizados. Na linguagem, ocorre perda de fluência verbal, esvaziamento de conteúdos e diminuição da compreensão, além de erros de leitura e escrita. Além disso, o paciente perde progressivamente habilidades visuoespaciais, como a capacidade de copiar desenhos.

Numa etapa avançada, a enfermidade traz dificuldades de expressão, movimentação e poder de reconhecimento perceptivo sensorial. As alterações psíquicas e comportamentais ocorrem em até 75% dos casos, comprometendo a vida social e ocupacional. Os sintomas incluem quadros depressivos e psicóticos (alucinações e delírios), apatia, agressividade, agitação psicomotora, condutas repetitivas, perturbações no ciclo de sono-vigília e mudanças nos hábitos de locomoção, como por exemplo, saídas a esmo e perambulações.

A análise dos cérebros de portadores da doença revela atrofia do córtex, camada periférica onde são realizadas as funções nervosas elaboradas, como os movimentos voluntários. A alteração é percebida principalmente na região localizada entre os lobos temporais e no córtex parietal, próximo aos ossos laterais do crânio.

No exame microscópico, observa-se perda de neurônios e degeneração da sinapse, transmissão de impulsos nervosos de uma célula para outra. A presença de estruturas compostas por massas granulares ou filamentosas, chamadas placas senis, e filamentos ao redor das células nervosas, denominados emaranhados neurofibrilares, comprovam a presença da doença de Alzheimer.

Incidência

A incidência da enfermidade na população eleva-se com a idade, dobrando a cada cinco anos a partir dos 60. O risco de um adulto adquirir a doença dos 60 aos 64 anos é de 0,7%; na faixa dos 90 aos 95 anos, a probabilidade aumenta para 40%.

Outros fatores de risco são histórico familiar de demência, alterações de cromossomos, traumatismo craniano e exposição ao alumínio. A doença é mais comum entre as mulheres.

A sobrevida costuma variar de 8 a 12 anos; contudo, formas mais graves podem progredir rapidamente, levando ao óbito em menos de dois anos.

Tratamento

O tratamento da doença de Alzheimer inclui estratégias farmacológicas e intervenções psicossociais para o paciente e seus familiares. Inúmeras substâncias psicoativas têm sido propostas para restabelecer ou preservar a cognição do paciente. A reposição da acetilcolina, substância do organismo que funciona como neurotransmissor, tem mostrado eficácia na melhora da capacidade cognitiva e do comportamento de portadores da doença. Os medicamentos usados nesse tipo de terapia são os inibidores da acetilcolinesterase, enzima que acelera a reação química entre a água e a acetilcolina. Essas drogas têm efeito sintomático discreto sobre a cognição, algumas vezes beneficiando as alterações psíquicas da demência. Acredita-se também que elas possam retardar a evolução natural da doença, possibilitando uma melhora temporária no estado funcional do paciente.

No Brasil, estão aprovadas outras medicações, que funcionam de maneira semelhante, porém com diferenças na rapidez de ação. Essas características devem ser levadas em conta na hora da escolha da droga que será prescrita ao paciente.

O tratamento das perturbações comportamentais e psíquicas é essencial no manejo clínico da doença. As manifestações psicóticas devem ser tratadas com neurolépticos, medicamentos de ação sedativa que não produzem sono, sempre com baixas dosagens e reavaliações periódicas.

Estados de extrema depressão e ansiedade requerem o uso de antidepressivos. No controle da agitação intensa ou dos distúrbios de sono, os antidepressivos sedativos são uma alternativa eficaz. Os hipnóticos, que tem efeito sonífero, devem ser usados com extrema cautela e por períodos reduzidos, porque podem prejudicar a cognição e ser de difícil abandono após o uso prolongado.

O tratamento efetivo da doença de Alzheimer é apenas em parte representado pelas drogas antidemência e pelos psicofármacos. Existem técnicas psicológicas específicas para o manejo desses pacientes, tais como terapias de orientação da realidade, de reminiscência e de validação, que devem ser aplicadas sempre que possível.

* Orestes Vicente Forlenza é psiquiatra e pesquisador do Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (LIM-27)
Contato: forlenza@usp.br

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