Disfunção Erétil
Solange Henriques
Disfunção erétil é a incapacidade persistente e recorrente de se obter e/ou manter ereção suficiente para concretizar o ato sexual satisfatório. Mas para que o homem seja considerado impotente, é preciso que o problema se manifeste por pelo menos seis meses consecutivos, já que falhas ocasionais são comuns. Além disso, para se configurar como patológica, a disfunção deve causar sofrimento e trazer danos psicológicos ao seu portador.
Ao contrário do que se pensa, não é a idade que causa a dificuldade de ereção, mas sim as doenças que ela traz consigo. Conforme o homem envelhece, torna-se mais propenso a distúrbios como diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia (colesterol alto) e doenças do coração, que são fatores de risco para a disfunção erétil. A obesidade, o uso de drogas, o abuso de bebidas alcoólicas, o tabagismo, o sedentarismo e os transtornos emocionais, entre eles a depressão, a ansiedade e o pânico, também prejudicam o desempenho sexual.
Envelhecimento
Todos esses itens, associados ou não, podem interromper o ciclo de resposta sexual, composto por desejo, excitação e orgasmo. São esses aspectos, e não o envelhecimento em si, que fazem com que 12,3% dos homens tenham disfunção erétil completa a partir dos 70 anos no Brasil; até os 40 anos de idade, este número é de 1,1%. Os dados são do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), conduzido pelo Projeto Sexualidade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, e coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo. As causas mais comuns para o problema são o diabetes, a hipertensão, a depressão e a cardiopatia.
Um idoso saudável tem capacidade de ereção. Já um indivíduo diabético, por exemplo, não estará na mesma condição. A doença lesa as paredes dos vasos sangüíneos, dificultando a irrigação sangüínea do pênis. Cardiopatias também danificam os tecidos endoteliais dos vasos e do coração. Uma lesão no endotélio cardíaco provavelmente coincidirá com outra no endotélio peniano. No caso da depressão, há uma diminuição do estímulo para o desempenho sexual.
Por isso, a disfunção erétil é considerada sintoma de um quadro de doença física e/ou psíquica. No primeiro caso, ela é classificada como orgânica e, no segundo, como sendo de origem psíquica. Há também uma categoria denominada mista, que envolve tanto os fatores físicos quanto os psíquicos. Neste caso, o transtorno começa como orgânico, mas acaba se refletindo no psiquismo do indivíduo. Um portador de doença cardíaca, por exemplo, pode falhar durante um período e, devido a essa dificuldade, desenvolver depressão.
É fundamental que o problema seja discutido com os médicos, que devem incluir, em sua rotina, perguntas sobre a vida sexual do paciente durante a consulta. Existem exames específicos, mas, num primeiro momento, o alerta é dado pelo próprio portador da disfunção.
Prevalência
Cerca de 155 milhões de homens apresentam algum grau de disfunção erétil em todo o mundo. No Brasil, calcula-se que esse número esteja em torno de 11 milhões. Com o aumento da expectativa de vida no país, acredita-se que esse número deva aumentar ainda mais nos próximos anos.
Uma pesquisa realizada em 2003 investigou o comportamento sexual da população em 13 estados brasileiros. Ao todo, 7103 homens e mulheres com idades superiores a 18 anos responderam a um questionário. Os resultados mostraram que 45,1% dos homens têm algum grau de disfunção erétil: 1,7% de forma completa, 12,2%, em nível moderado e 31,2%, leve.
A boa notícia é que a disfunção erétil tem tratamento. Em primeiro lugar, o paciente deve se conscientizar da importância dos hábitos saudáveis de vida e colocá-los em prática. Por outro lado, houve uma grande evolução nos últimos anos com relação ao tratamento medicamentoso, com o advento dos inibidores da enzima fosfodiesterase 5 (PDE-5). Atualmente, estão disponíveis no mercado o sildenafil, o vardenafil e o tadalafil. Esses medicamentos mantêm o fluxo sangüíneo ativado no pênis por mais tempo, facilitando a ereção. No entanto, o efeito só ocorre se o homem tiver desejo, pois os fármacos não geram o estímulo sexual.
Tratamento
As medicações para disfunção erétil podem ter efeitos colaterais como enrubecimento da face, corrimento nasal, distúrbios na digestão, dor de cabeça e dispepsia, mas esses eventos são raros (7% a 8% dos casos) e pouco intensos. A única contra-indicação formal é o uso associado com medicações à base de nitratos, utilizadas no tratamento de doenças cardíacas. A combinação das drogas (nitratos + inibidores da PDE-5) pode ser fatal.
Para o sucesso da terapia, é essencial que a causa da disfunção erétil também seja reconhecida e tratada. A maioria dos casos tem a ereção recuperada com essas medicações. Porém, se as lesões dos vasos sangüíneos forem muito avançadas, a ereção só será recuperada com a colocação de próteses penianas, por meio de cirurgia.
A melhor forma de se evitar a disfunção erétil é a prevenção. Para tanto, o homem precisa manter hábitos saudáveis durante a vida, evitando engordar, beber em excesso, fumar, usar drogas, ficar ansioso ou estressado. Além disso, ele deve se precaver contra doenças sistêmicas e evitar o abuso de medicamentos que interferem na libido, entre outras medidas. A saúde sexual depende da saúde geral e nela se reflete.
Fonte: Carmita Abdo, professora associada do Departamento de Psiquiatria e coordenadora do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (ProSex) da FMUSP
Contato: prosexmail@uol.com.br
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